segunda-feira, janeiro 05, 2015

Olimpo derrotado

[Cobertura da primeira vitória do Gabriel Medina em 2014, o início de uma longa e inesquecível Jornada]

De olho em algo muito maior do que apenas uma porrada no lipe...


O que fica na memória é a sequência fantástica de nocautes: Mick, Taj e Parko – Pow, Pow, Pow! Isso, só na conta do Medina. Mineiro e Pupo derrubaram Owen, Kerr e Slater.Temos, numa rápida contagem, 15 títulos mundiais e uma infinidade de Top 5 entre esses senhores.

Quem diria, 17 anos atrás, que os brasileiros deixariam um rastro de destruição desse porte nas areias do Super Bank – na verdade na água – logo na primeira etapa do ano...
Apresso-me em responder, com fatos, quem sonhava com esse momento: Peterson Rosa e Neco Padaratz – e Adriano.

O campeão do Quiksilver Pro 2014 ainda não tinha feito três anos de idade quando Slater venceu o Bronco na final do então Billabong Pro de 1997. Neco Padaratz ficou na semi, também diante de Kelly.

Adriano, na sua estreia no WCT, arrancou um terceiro em 2006, com apenas 19 anos, gostou tanto que decidiu fazer três finais na Goldie: 2009, 2010 e 2012. Os números servem para mostrar como uma vitória se constrói. Ela começa bem antes de Gabriel acabar com a festa dos australianos e fincar a bandeira brasileira no lugar mais alto do pódio.



Troca de guarda

Na Nova ASP, a expressão americana “terra de oportunidades” ganha novo significado. A nova direção quer mudanças e nada melhor do que nós, reconhecidamente mercado emergente, para dar a partida nos novos negócios.

Gabriel nem precisou usar seus superpoderes para superar um por um dos seus adversários no caminho do título. Durante todo o tempo, Medina parecia mandar uma mensagem como esta: “Pessoal, esse é o meu jogo e eu jogo do jeito que eu quiser”. Cada onda foi surfada apenas com o esforço suficiente para abater o oponente, sem exageros, sem firulas. Como Curren fez tantas vezes antes e como Kelly aprendeu a fazer como ninguém. A carta na manga, a arma secreta, tem lugar e hora para ser usada.

Medina aprendeu isso.


Doces rivais

Quase duas semanas depois de impor a quinta derrota seguida ao onze vezes campeão mundial, Adriano publicou uma foto de uma onda do Slater no Instagram com a seguinte legenda: “Como usar o espaço da onda, mesmo ganhando do Kelly na Gold, é nessa foto que eu observo a perfeição, tenho conhecimento que falta muito ainda”. Sempre conectado, Kelly respondeu: “Você é um sujeito bacana, Adriano”.

Mineiro tem uma maneira diferente de abalar o Careca, alguma coisa balança as estruturas do camarada que antes parecia tão imune aos encantos alheios. Talvez esse seja o jeito de Adriano repetir aquele famoso “Eu te amo”, que Kelly disse para Andy antes da final do Pipe Masters de 2003.

Não há hoje, no Circuito Mundial, ninguém tão preparado, obstinado e combativo como Adriano de Souza. Até Slater reconhece isso.

Quando inverter o sentido tem outro significado


Se quer uma revolução, faça você mesmo

A grande notícia na página da (Nova) ASP antes de começar o Quik Pro era o retorno de Owen Wright. Fazia todo sentido, afinal, o camarada tinha se apresentado com candidato ao título mundial em 2011, fazendo três finais seguidas com Slater. Após passar toda a temporada de 2013 de molho, recuperando-se de uma contusão, Owen era uma aposta certa. Ou não?

Perguntem a Miguel Pupo...

Pupo é um rapaz calado, fala mansa, boa praça, sempre com sorriso no rosto quando cruza com um companheiro, lembra até um pouco outro goofy brasileiro famoso pela velocidade e estilo, Victor Ribas.

Victor também não chamava muita atenção até um belo dia disputar o título mundial com Occy e Taj e levar a decisão para o Hawaii. Até hoje, o terceiro lugar no ranking de 1999 ainda não foi superado [Nota do Autor: em 2014 a história muda].

Não estamos aqui para falar do Victor, contemporâneo do pai do Miguel, Wagner Pupo.
Estamos aqui para mostrar que nem toda força da indústria consegue ganhar uma bateria.

Na terceira fase do Quiksilver Pro, Miguel Pupo silenciosamente aniquilou Owen Wright, dando cabo das expectativas da máquina de comunicação da ASP. Pupo foi possivelmente o surfista brasileiro mais elogiado pela imprensa estrangeira nessa primeira etapa – o que não deixa de ser uma grande conquista. Cada vez mais, Miguel vai crescendo debaixo dos nossos narizes como grande surfista.

Perguntem a Josh Kerr...


O serrote e a marreta

Existem alguns detalhes fundamentais na extraordinária vitória do Medina.

Número 1: ele nunca foi o melhor surfista do evento, mas venceu cada um dos principais favoritos com uma precisão cirúrgica.

Número 2: Gabriel rompeu barreiras, primeiro goofy em dez anos a vencer na Gold Coast – Mick Lowe bateu Andy Irons numa final complicada em Rainbow Bay em 2004.

Número 3: essa é a primeira vez que iniciamos o ano na frente do ranking.

Número 4 (talvez o mais importante): Gabriel não se deu ao luxo de voar.

Existe um dado novo nessa história: a partir de agora, já não somos mais francoatiradores, todos os olhos estão apontados para Medina, Mineiro, Pupo e cia. Passamos de caçadores a caça. Se antes nós reclamávamos do julgamento, agora é a vez deles – vide comentários abaixo de toda e qualquer publicação sobre a primeira etapa. São muitas primeiras vezes, tudo novo.

Como disse muito bem Adriano, eles (gringos) já têm onde se espelhar, sobram as referências do que fazer e como fazer, enquanto para os brasileiros é sempre uma surpresa porque ninguém trilhou esse caminho ainda – de ganhar o título mundial.
Gabriel tem um retrospecto excelente contra Taj, Mick, Slater e Parko, o problema é outro brasileiro, chamado Adriano de Souza, que tem 4 x 0 em cima dele.

Imaginem se a disputa do título ficar entre esses dois camaradas? Num tempo de mudanças, de troca de guarda, tudo pode acontecer.


3 comentários:

  1. zeca zagury4:28 PM

    Sempre preciso e crirúrgico em suas análises, senti falta da menção ao Felipe Toledo que evoluiu substancialmente este ano faturando o QS e surfando muito nas ondas pesadas, se ganhar mais corpo e manter a criatividade , radicalidade e raça na minha opinião pode brigar em 2015 por um lugar entre os 10 ou 5 primeiros no ranking quiça surpreender ainda mais.

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